Do samba de protesto ao marketing político: o carnaval campista vira a página da história
Paulo de Almeida Ourives1 e Orávio de Campos Soares2
RESUMO:
O presente trabalho consiste em mostrar que as escolas de samba de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, estão modificando e mudando a história do samba e do carnaval, quando procuram homenagear políticos da atualidade. O samba, em sua essência original, era uma forma de protesto dos negros contra os senhores de engenho, que os tratavam de forma desumana. Atualmente as escolas de samba de Campos dependem de verbas governamentais para mostrar a sua arte desse modo eles prestam homenagens aos políticos atuais, que aproveitam o seu poder para fazer da escola, e do samba, um marketing político.
Palavras-chave: Folkcomunicação, Cultura popular, Carnaval.
1 Estudante de Comunicação Social, com especialização em Jornalismo na Faculdade de Filosofia de Campos dos Goytacazes (RJ).
2 Professor mestre e orientador da presente pesquisa.
O carnaval como manifestação cultural e folclórica
No livro "As festas populares como processos comunicacionais: Roteiro para o seu inventário, no Brasil, no limiar do século XXI", o autor José Marques de Melo preceitua que “festa é um fenômeno de natureza sócio-cultural que permeia toda a sociedade; significando uma trégua no cotidiano rotineiro e na atividade produtiva”. O pesquisador José Marques de Melo informa que o estudo das festas não pode ser feito de forma estanque sem que se faça uma correlação das festas com a vida quotidiana, as suas rotinas e também com o mundo do trabalho. A festa faz parte do “lazer”, onde as classes populares ingressam de forma intensa quando passam a ter direito ao “ócio”, privilégio que era desfrutado apenas pelas classes mais abastadas da sociedade. O fato é que o carnaval, por ser uma festa pagã, também é uma “festa da desordem”, e José Marques de Melo, pontua com um trecho de Da Matta, esse fato: “Penso que o carnaval é basicamente uma inversão do mundo. (...) Carnaval, pois, é uma inversão porque é competição numa sociedade marcada pela hierarquia. É movimento numa sociedade que tem horror à mobilidade, sobretudo à mobilidade que permite trocar efetivamente de posição social. É exibição numa ordem social marcada pelo falso recato de “quem conhece o seu lugar” - algo sempre usado para o mais forte controlar o mais fraco em todas as situações”. (Da Matta, 1984: 74-78) As festas brasileiras, apesar dessa renovação como espaço típico de lazer, preservam sua natureza diversificada e ao mesmo tempo permanecem hibridamente fincadas em suas raízes populares. Origem do Carnaval no Mundo e na Europa Nas páginas do livro, “As festas populares na expansão do turismo, a experiência italiana”, Maria Nazareth Ferreira relata que o carnaval nasceu de antigos rituais romanos, cuja origem está na Saturnalia, uma celebração em homenagem a Saturno e que fora praticada desde o séc. V a.c., pois o templo de Saturno, existente em Roma, data de 497 a.C. A prática desta festa era reviver rituais antigos, e os dias de festas eram comemorados entre os dias 17 e 23 de dezembro, onde além destes dias, havia mais seis dias de feriados, quando a justiça então ficava proibida de prender, julgar ou executar prisioneiros. “A parte sagrada da festa compreendia um conjunto de rituais celebrados no Templo di Saturno, seguido de um banquete sagrado, durante o qual se trocavam estatuetas de cera (sigilia), de grande significado ritualístico, além de outros presentes. Em cada comunidade elegia-se o Rex Saturnaliorum que, após o ritual sagrado, deveria organizar divertimentos, danças, jogos de azar e todas as atividades que eram rigorosamente proibidas durante todo o ano”. (página 28)
Como se percebe nestas linhas, o Rex Saturnaliorum, eleito em cada comunidade e que tinha o dever de organizar os divertimentos e as festas, seria o que hoje conhecemos como o Rei Momo, que tem a obrigação de participar e organizar todas as festas e bailes de carnaval, mas que ultimamente, tem sido apenas uma figura folclórica com um poder fictício. Além disso, os dados contidos no livro informam também que, “Durante as festividades das Saturnalia as relações sociais eram subvertidas: os escravos zombavam dos senhores e eram por estes servidos; os homens livres exerciam funções próprias da aristocracia, reatualizando assim o tempo mítico da origem – a áurea aestas”. (página 28). Com este detalhe podemos compreender porque que no carnaval as pessoas invertem os fatores e as classes sociais, como nas fantasias em que escravos se fantasiam de reis e rainhas, e os senhores e autoridades são caricaturizados por pessoas do povo que não detinham poder nenhum como forma de protestar e manifestar os seus desejos de alcance da pirâmide social, e também quando os homens se vestem de mulher, e as mulheres se fantasiam de homens. E é através destas linhas que compreendemos certas modificações que foram realizadas através dos tempos, quando a Igreja assume e continua a controlar os festejos como vimos até hoje, nos carnavais cariocas, onde escolas de samba são proibidas de mostrar determinadas alegorias, de caráter religioso. “Nos primeiros tempos, o carnaval começava em 26 de dezembro, mas a Igreja transferiu seu início, segundo cada local para, de 6 a 17 de janeiro. Para instrumentalizar a forte presença da idéia de purificação presente na população desde tempos imemoriais, a Igreja mudou o Carnaval e a Quaresma para o mês de fevereiro. Nos tempos antigos o mês de fevereiro era exclusivamente dedicado aos rituais de purificação, como o indica o seu próprio nome: februari (significa ação de purificar)”. Das batidas do Jongo nasce o carnaval no Brasil – Rio de Janeiro Em 2004 a Revista Nossa História, ano 1, nº 4, fevereiro 2004, publicada pela Biblioteca Nacional, em suas páginas 8 e 9, informava que o carnaval nasceu através das batidas de jongo na Serrinha, e que teriam dado origem a Escola de Samba Império Serrano, enquanto isso o jornal O Globo, em sua edição especial sobre o carnaval sequer fez menção ao jongo. Mas foi no site (http://oglobo.globo.com/especiais/carnaval/historia_rj.asp), que conseguir dados a respeito de como o carnaval chegou ao nosso país. O entrudo (do latim “intróito”, entrada) foi implantado a partir de 1723, quando os nativos das ilhas portuguesas da Madeira, Açores e Cabo Verde chegaram ao Brasil e se estabeleceram na costa litorânea, entre Porto Alegre e Espírito Santo. No início os foliões se divertiam jogando água uns nos outros.
O Carnaval em Campos
A festa popular e as brincadeiras pagãs que antecediam o início da Quaresma também eram praticadas na planície goitacá, mas até meados do século XIX, essa festa era comemorada na forma do “entrudo”. Como os foliões sempre usavam da violência ao iniciar as batalhas com baldes dágua e farinha de trigo e terminavam com o mau gosto das latas de urina, o presidente da Câmara Municipal, Barão de Carapebus, em 1851, decidiu tomar uma providência enérgica para acabar com o desrespeito. Baixou então um edital proibindo o “entrudo”. O edital além de proibir a prática grosseira e nociva, cominava penas de seis dias de prisão e 12$000 de multa, substituída por 50 açoites no pelourinho. O edital possuía quatro artigos longos e detalhados, mas que nunca foram respeitados. Mesmo assim, a situação melhorou, e os antigos baldes dágua com farinha foram substituídos pelos limões de cheiro, tido como um projétil mais amável e cordial. Desse modo, 15 dias antes do carnaval iniciar, começava a fabricação dos limões que eram feitos de água perfumada e eram vendidos em tabuleiros por escravos, ou em casas comerciais como a do Vieira Bellido que anunciou a venda dos tais limões pela última vez em 1892. Os limões eram feitos de cera em diferentes cores e tamanhos, borracha muito fina, cheia de água perfumada. Depois surgiram as bisnagas feitas de folhas de lata, espirrando cheiros bons. Em 1896, Arthur Rockert, introduziu o “biógrafo” (cinema) em Campos, e lançou finalmente as confetes e serpentinas, enfeitando de uma vez o carnaval campista. Os primeiros desfiles de carruagem ocorreram em 1857, quando existiam em Campos 157 carruagens, e os desfiles eram feitos a pé, à cavalo ou carrinhos. O primeiro desfile carnavalesco foi organizado pela “Sociedade Congresso Carnavalesco”, cuja sede localizava-se na rua do Sacramento (Lacerda Sobrinho). O desfile constou de carro alegórico reproduzindo antigas “saturnais”, música e guarda de honra à cavalo, levando “bouquês” que eram oferecidas as damas. Depois disso surgiram outros clubes, em 1870, surgiu a “Sociedade Az de Copas”, que marcou e provocou um escândalo porque os homens saíram fantasiados de mulher. Para Hervê Salgado Rodrigues, autor do livro Campos: Na Taba dos Goytacazes, a fase áurea do carnaval campista ocorreu entre os anos de 1920 e 1950. Não se sabe em que ano, mas a verdade é que no livro Campos: Na Taba dos Goytacazes, Hervê Salgado Rodrigues informa que “nas tardes de carnaval, os mascarados começavam o desfile por volta das 14 horas. Eram figuras humorísticas, belos dominós com guizos e arminho nos punhos e nas golas ursos e bois pintadinhos. Depois quase à tardinha, vinha os corsos. A população então vinha pra o centro para assistir ao desfile e participar dos desfiles e das guerras com os populares limões de cheiro”. Vale ressaltar que na história do carnaval campista foram criados ao longo dos anos diversos grupos carnavalescos, que por medida de espaço iremos citar: os clubes, cordões, ranchos, blocos de embalo ou blocos avulsos, blocos de salão, boi pintadinho, blocos de samba, batucadas, e as escolas de samba.
As escolas de samba Apesar de haver tantos livros contando a história de fatos do município, alguns autores não deram importância para que os registros históricos fossem úteis para a posteridade. No livro Na Taba dos Goytacazes, o autor e jornalista Hervê Salgado Rodrigues compara a casa da “Tia Ciata”, mulata líder dos boêmios e malandros cariocas, com a Sinhá Chica, lavadeira campista, que morava no centro. “Aqui em Campos também tivemos uma réplica da ‘Tia Ciata’. Era a ‘Sinhá Chica’. Ela morava na rua Boa Morte, era lavadeira, e sua casa acolhia os boêmios na era dos ranchos (...). ‘Sinhá Chica’ era presidente e praticamente dona do ‘Corbeille das Flores’ (...). Estávamos ainda muito longe das escolas de samba, cujo ritmo quente iria enxotar para sempre o compasso binário dos blocos e ranchos...”. Somente depois da metade do século XX, mais precisamente por volta de 1965, é que surgem as primeiras escolas de samba de Campos. Elas surgiram inicialmente usando os mesmos nomes das escolas de samba do Rio de Janeiro, como, Salgueiro, Madureira, Unidos da Tijuca e Bando da Luz. Até que, finalmente resolveram trocar de nome surgindo então os “Amigos da Farra”, a “Mocidade Louca”, “União da Esperança”, “Ururau da Lapa”, “Independente”, etc. Dentre as escolas de samba atuais, a Associação Atlética Mocidade Louca é a mais antiga, pois foi fundada em 8 de dezembro de 1952. A tricolor (azul, vermelho e branco) do Morrinho, é a que mais ganhou títulos, sendo 9 consecutivos entre as décadas de 50 e 60, e seu último título foi em 1981. Esta escola foi fundada por Jorge da Paz Almeida, um carnavalesco cuja história de vida já entrou para o folclore da cidade e do carnaval campista. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Ururau da Lapa, cujo nome é uma homenagem a lenda campista, do jacaré-do-papo-amarelo, que engoliu um sino de ouro e vivia no Rio Paraíba, nas proximidades da Lapa, detém o título de ser uma das maiores campeãs do carnaval campista, desde a época em que não passava de um simples bloco. A vermelho e branco da Lapa, fundada em 21 de janeiro de 1979, conquistou os títulos de 83 e 84, os últimos como bloco de samba. Em 1985, a agremiação passou a ser uma escola de samba e desde então conquistou os títulos de 1985, 86, 87, 88, 90, 91, 92, 95, 96, 98, 2002, 2003 e 2004. A Ururau da Lapa é a única escola de samba que consegue agregar pessoas da alta sociedade e fazer com que elas participem, desfilem e convivam com a comunidade da Lapa, onde está a sua sede. Do samba de protesto ao marketing político Ao pesquisar a história do carnaval campista um fato chama a atenção do pesquisador, a ausência do registro histórico, uma data para comprovar os fatos e registrar para a posteridade fatos marcantes que poderiam dar àqueles que vivenciaram o carnaval, o pioneirismo dos seus atos. O que se sabe até aqui, é que as letras dos sambas sempre tiveram como tema a crítica aos fatos acontecidos em determinados períodos. Estas músicas foram muito utilizadas quando o carnaval ainda vivia sob a época dos cordões carnavalescos onde cada escola resolvia criar um samba para provocar também a ira de outras escolas e para gabar-se da sua. Como foi contado por Jorge da Paz Almeida, conhecido como Jorge Chinês, em seu livro, “Campos: 50 anos de carnaval”. “...Mas, a partir do momento em que era dado o grito de guerra, começava o negócio. Houve um ano que por motivo de força maior o Filhos do Sol não saiu, então a Lira Brasileira não fez por menos. Cantou uma marcha assim: “A luz do Sol já perdeu o brilho O da Estrela já se apagou Só quem brilha é a nossa Lira Chega Iaiá, chega ioiô”.A resposta da Estrela veio imediatamente: “Filhos do Sol Nos deixou sozinhos Pra combater com a tal da Lira Eles disseram que nós perdemos o brilho Porém protesto, protesto que é mentira A bela Estrela alegre e prazenteira Queremos ver de perto A tal Lira Brasileira”.(bis)Depois com o surgimento das associações de classe as escolas de samba passaram a utilizar temas relativos a história do Brasil e do mundo, apesar disso uma vez ou outra uma escola de samba criava um samba para provocar a rivalidade contra as outras escolas. Como conta Jorge da Paz Almeida em seu livro: “... As divergências entre escolas eram por zonas, havia uma rivalidade grande entre Sorriso e Mangueira em Guarulhos e, do lado de cá, Salgueiro e Catete e ainda Coroa em Samba e Cruzeiro que será lembrada por muito tempo. Coroa em Samba começava seus ensaios logo após a Semana Santa, não só ensaiava como fazia passeata pelo bairro. Naturalmente, haviam os que não gostavam de samba fora de época, mas como a turma era conhecida ninguém se queixava. Um dia a cavalaria apareceu e interrompeu a passeata, dando uma carreira nos batuqueiros. O Cruzeiro não fez por menos, lançou um samba: “Até que chegou o dia Batendo noite e dia Chegou o que o Cruzeiro queria Ver a Coroa correndo no meio da cavalaria”.Mas como essas associações não possuem recursos para bancar os custos de um desfile, elas vêem no poder público uma fonte para custear a montagem de carros alegóricos, fantasias, estandartes e alegorias.
Diante dessa facilidade as escolas então começam a vender seus espaços e seus enredos para homenagear homens públicos. Passando a inverter e mudar a história, dos antigos sambas de protesto, essas escolas viram espaço de marketing para os políticos locais. Em 2001, o ex-governador do Estado e ex-prefeito de Campos, Anthony Garotinho foi homenageado pela Escola de Samba Os Psicodélicos, cuja letra é essa: Os Psicodélicos “Quem sabe faz a hora”Autores: Toninho Shita, Markinho Grande e Adalto Sepúlveda “Nos braços de um povo Que tanta te ama O defensor do proletário Um menino predestinado Que nasceu na Lapa e acendeu a chama Guerreiro, guardião desta planície Junto aos amigos do Liceu de Humanidades Na arte e na cultura, buscando novas rimas Mudou Campos, por amor a esta cidade. Na paixão que foi buscar, Rosinha Ela vai perpetuar, com o seu carinho O verdadeiro amigo das donas-de-casa (Bis)De coração a coração, fala Garotinho.“O jovem”O jovem triunfou De narrador de futebol a governador Ao lado da primeira dama O realizador Todo o Estado canta agora Foi deputado estadual Melhor prefeito do Brasil Quem sabe faz a hora. Ele é um rio que corre pro mar Canta Morrinho Que Os Psicodélicos, amor (Refrão)É Garotinho”Em 2002 e 2003 os homenageados foram o ex-vice-prefeito Geraldo Pudim, o ex-vereador Toninho Vianna; o ex-prefeito Arnaldo Vianna; o ex-deputado estadual, Paulo Albernaz; e o ex-vereador Manoel Alves da Costa. Em 2004, a homenageada pela Escola de Samba Ás de Ouro, foi a Governadora do Estado, Rosinha Matheus, cuja letra do samba foi esta: Ás de Ouro “Do Teatro ao Palácio Guanabara: a Rosa que faz”Autores: Fernando Lima e Hugo Leal Vamos exaltar a flor mais bela, quanta sedução! Nasceu em Itaperuna A rosa que perfuma esta canção Foi em Campos sua infância Desde os tempos de criança Despertou justiça e igualdade Em prol de uma cidade se entregou A paixão pela arte surgiu Seu canteiro de sonhos floriu No teatro do Sesc que encontrou (Refrão)O seu verdadeiro amor Por seus ideais Ela dedicou a sua vida Não se intimidou Foi nas urnas pelo povo a preferida Mãe, primeira-dama, veio e venceu, governa os sonhos de quem te elegeu. Quantos programas sociais! Luz de um trovador Peça de um ator, cor e paz Eu sou Ás de Ouro Trago esse tesouro, te esquecer, jamais Do teatro ao Palácio Guanabara (Bis)A rosa que fazMetodologia O presente trabalho de pesquisa teve como objetivo mostrar que o carnaval, manifestação artística, cultural e folclórica tem sofrido modificações com o passar dos tempos. Desde os primórdios da festa os manifestantes tem feito adaptações a maneira de comemorar o carnaval, se no início era apenas para festejar a chegada de uma estação e o princípio de um período de fartura para a agricultura, o carnaval passou por transformações tais como, a inversão de valores e as relações entre patrões e empregados. Dos sambas de protesto e escárnio, hoje os políticos de Campos, usam o carnaval como mais uma forma de atrair a atenção do povo, em uma estratégia de marketing político.
Análise dos resultados
Colhidos os resultados das pesquisas e das entrevistas percebe-se que o carnaval campista e porque não dizer, brasileiro, vem modificando e se adaptando aos novos tempos. Novos conceitos, novas tecnologias e novas informações, tudo a seu tempo. As escolas de samba, no desejo de conseguir as verbas governamentais vem mudando o seu conceito do que é popular e folclórico para conquistar espaços com o marketing político e comercial. As dificuldades foram muitas, principalmente no que se refere aos dados principais das escolas de samba, onde tanto os escritores de ontem, bem como jornalistas e homens da imprensa não tiveram o desejo de registrar para a posteridade dados que hoje fazem falta a qualquer pesquisador que queira fazer um estudo antropológico e social da sociedade campista através dos enredos das escolas de samba. Um dos poucos livros que retratam a história dessa festa popular no município, peca pela falta de dados mais precisos para o registro histórico dos carnavais de ontem. E também, das datas do início das atividades de cada uma das escolas de samba, bem como blocos de embalo, ranchos, bois pintadinhos, e das grandes sociedades carnavalescas que por algum tempo levaram ao público campista a alegria e a irreverência do carnaval. Conclusão Após todo esse trabalho de pesquisa, através de livros e sites na internet, sobre o carnaval o pesquisador chega a conclusão de que o carnaval como manifestação cultural popular, vem sofrendo modificações com o decorrer do tempo. Todas essas mudanças são decorrentes da evolução da sociedade e dos meios em que vivemos, dos problemas enfrentados e até mesmo da maneira com que a classe política de âmbito geral, vem trabalhando para dar ao povo as obras necessárias para a melhor qualidade de vida. Por outro lado, cabe também uma ponta de responsabilidade de quem averigua e pesquisa uma matéria tão complexa, atestar para a posteridade os fatos que determinaram as mudanças na apresentação do carnaval e dos seus enredos, para o povo. Pois o carnaval também é visto como uma fonte de comunicação do povo para o povo, e é através dele, que o carnavalesco conta a história de fatos passados, com uma visão do presente, deixando o seu legado para as novas e futuras gerações. Como tudo se transforma, é bem provável que nos próximos anos vejamos novidades no carnaval brasileiro, porque os carnavalescos campistas, já viraram a página da história, dos antigos sambas de protesto, as escolas de samba, venderam os seus espaços e seus enredos para que os políticos utilizem o carnaval como marketing político. Referências Bibliográficas: FERREIRA, Maria Nazareth – As festas populares na expansão do Turismo, a experiência italiana – Editora Arte & Ciência, 1ª edição, 2001. RODRIGUES, Hervê Salgado – Na Taba dos Goytacazes – Imprensa Oficial, 1ª edição, 1988.
Bibliografia:
SOUSA, Horácio – Cyclo Áureo, História do Primeiro Centenário de Campos – 1835-1935 – Editora, 2ª Edição, 1985. MELO, José Marques de – As festas populares como processos comunicacionais: Roteiro para o seu inventário, no Brasil, no limiar do século XXI, Editora, Edição, Ano. ALMEIDA, Jorge da Paz (Jorge Chinês) – Campos: 50 anos de carnaval – Escola de Artes Gráficas Lar Cristão, 2ª Edição, 1992. CASCUDO, Luís da Câmara – Dicionário do Folclore Brasileiro, Global Editora, 9ª Edição, 2000. NICÈAS, Alcides – Verbetes pra um dicionário do carnaval brasileiro, Fundação Ubaldino do Amaral, 1ª Edição, 1991.
Hemerografia:
Revista Nossa História – Ano 1, nº 4, fevereiro, 2004 – Editada pela Biblioteca Nacional. Revista Ensaio Geral – Ano VIII – nº 12, dezembro, 2003 – Informativo da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) – Íris Editora, RJ.
Webgrafia:
http://oglobo.globo.com/especiais/carnaval/historia_rj.asp. http://carsaniga.sites.uol.com.br/carnaval2004/sambas.asphttp://www.liesa.com.brhttp://www.mangueira.com.brhttp://www.geocities.com/aochiadobrasileiro/Musicas/Oabrealas.htmhttp://www.eucantosamba.blogger.com.br/http://www.geocities.com/chaleregina/Historia/Historiadosamba.htmhttp://www.mangueira.com.br/m_h_ocarnavais_sambaenredo.htmhttp://www.gresportela.com/index2.htmlwww.infoamerica.org/ teoria/andrade1.htmhttp://translate.google.com/translate_t
Paulo de Almeida Ourives1 e Orávio de Campos Soares2
RESUMO:
O presente trabalho consiste em mostrar que as escolas de samba de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, estão modificando e mudando a história do samba e do carnaval, quando procuram homenagear políticos da atualidade. O samba, em sua essência original, era uma forma de protesto dos negros contra os senhores de engenho, que os tratavam de forma desumana. Atualmente as escolas de samba de Campos dependem de verbas governamentais para mostrar a sua arte desse modo eles prestam homenagens aos políticos atuais, que aproveitam o seu poder para fazer da escola, e do samba, um marketing político.
Palavras-chave: Folkcomunicação, Cultura popular, Carnaval.
1 Estudante de Comunicação Social, com especialização em Jornalismo na Faculdade de Filosofia de Campos dos Goytacazes (RJ).
2 Professor mestre e orientador da presente pesquisa.
O carnaval como manifestação cultural e folclórica
No livro "As festas populares como processos comunicacionais: Roteiro para o seu inventário, no Brasil, no limiar do século XXI", o autor José Marques de Melo preceitua que “festa é um fenômeno de natureza sócio-cultural que permeia toda a sociedade; significando uma trégua no cotidiano rotineiro e na atividade produtiva”. O pesquisador José Marques de Melo informa que o estudo das festas não pode ser feito de forma estanque sem que se faça uma correlação das festas com a vida quotidiana, as suas rotinas e também com o mundo do trabalho. A festa faz parte do “lazer”, onde as classes populares ingressam de forma intensa quando passam a ter direito ao “ócio”, privilégio que era desfrutado apenas pelas classes mais abastadas da sociedade. O fato é que o carnaval, por ser uma festa pagã, também é uma “festa da desordem”, e José Marques de Melo, pontua com um trecho de Da Matta, esse fato: “Penso que o carnaval é basicamente uma inversão do mundo. (...) Carnaval, pois, é uma inversão porque é competição numa sociedade marcada pela hierarquia. É movimento numa sociedade que tem horror à mobilidade, sobretudo à mobilidade que permite trocar efetivamente de posição social. É exibição numa ordem social marcada pelo falso recato de “quem conhece o seu lugar” - algo sempre usado para o mais forte controlar o mais fraco em todas as situações”. (Da Matta, 1984: 74-78) As festas brasileiras, apesar dessa renovação como espaço típico de lazer, preservam sua natureza diversificada e ao mesmo tempo permanecem hibridamente fincadas em suas raízes populares. Origem do Carnaval no Mundo e na Europa Nas páginas do livro, “As festas populares na expansão do turismo, a experiência italiana”, Maria Nazareth Ferreira relata que o carnaval nasceu de antigos rituais romanos, cuja origem está na Saturnalia, uma celebração em homenagem a Saturno e que fora praticada desde o séc. V a.c., pois o templo de Saturno, existente em Roma, data de 497 a.C. A prática desta festa era reviver rituais antigos, e os dias de festas eram comemorados entre os dias 17 e 23 de dezembro, onde além destes dias, havia mais seis dias de feriados, quando a justiça então ficava proibida de prender, julgar ou executar prisioneiros. “A parte sagrada da festa compreendia um conjunto de rituais celebrados no Templo di Saturno, seguido de um banquete sagrado, durante o qual se trocavam estatuetas de cera (sigilia), de grande significado ritualístico, além de outros presentes. Em cada comunidade elegia-se o Rex Saturnaliorum que, após o ritual sagrado, deveria organizar divertimentos, danças, jogos de azar e todas as atividades que eram rigorosamente proibidas durante todo o ano”. (página 28)
Como se percebe nestas linhas, o Rex Saturnaliorum, eleito em cada comunidade e que tinha o dever de organizar os divertimentos e as festas, seria o que hoje conhecemos como o Rei Momo, que tem a obrigação de participar e organizar todas as festas e bailes de carnaval, mas que ultimamente, tem sido apenas uma figura folclórica com um poder fictício. Além disso, os dados contidos no livro informam também que, “Durante as festividades das Saturnalia as relações sociais eram subvertidas: os escravos zombavam dos senhores e eram por estes servidos; os homens livres exerciam funções próprias da aristocracia, reatualizando assim o tempo mítico da origem – a áurea aestas”. (página 28). Com este detalhe podemos compreender porque que no carnaval as pessoas invertem os fatores e as classes sociais, como nas fantasias em que escravos se fantasiam de reis e rainhas, e os senhores e autoridades são caricaturizados por pessoas do povo que não detinham poder nenhum como forma de protestar e manifestar os seus desejos de alcance da pirâmide social, e também quando os homens se vestem de mulher, e as mulheres se fantasiam de homens. E é através destas linhas que compreendemos certas modificações que foram realizadas através dos tempos, quando a Igreja assume e continua a controlar os festejos como vimos até hoje, nos carnavais cariocas, onde escolas de samba são proibidas de mostrar determinadas alegorias, de caráter religioso. “Nos primeiros tempos, o carnaval começava em 26 de dezembro, mas a Igreja transferiu seu início, segundo cada local para, de 6 a 17 de janeiro. Para instrumentalizar a forte presença da idéia de purificação presente na população desde tempos imemoriais, a Igreja mudou o Carnaval e a Quaresma para o mês de fevereiro. Nos tempos antigos o mês de fevereiro era exclusivamente dedicado aos rituais de purificação, como o indica o seu próprio nome: februari (significa ação de purificar)”. Das batidas do Jongo nasce o carnaval no Brasil – Rio de Janeiro Em 2004 a Revista Nossa História, ano 1, nº 4, fevereiro 2004, publicada pela Biblioteca Nacional, em suas páginas 8 e 9, informava que o carnaval nasceu através das batidas de jongo na Serrinha, e que teriam dado origem a Escola de Samba Império Serrano, enquanto isso o jornal O Globo, em sua edição especial sobre o carnaval sequer fez menção ao jongo. Mas foi no site (http://oglobo.globo.com/especiais/carnaval/historia_rj.asp), que conseguir dados a respeito de como o carnaval chegou ao nosso país. O entrudo (do latim “intróito”, entrada) foi implantado a partir de 1723, quando os nativos das ilhas portuguesas da Madeira, Açores e Cabo Verde chegaram ao Brasil e se estabeleceram na costa litorânea, entre Porto Alegre e Espírito Santo. No início os foliões se divertiam jogando água uns nos outros.
O Carnaval em Campos
A festa popular e as brincadeiras pagãs que antecediam o início da Quaresma também eram praticadas na planície goitacá, mas até meados do século XIX, essa festa era comemorada na forma do “entrudo”. Como os foliões sempre usavam da violência ao iniciar as batalhas com baldes dágua e farinha de trigo e terminavam com o mau gosto das latas de urina, o presidente da Câmara Municipal, Barão de Carapebus, em 1851, decidiu tomar uma providência enérgica para acabar com o desrespeito. Baixou então um edital proibindo o “entrudo”. O edital além de proibir a prática grosseira e nociva, cominava penas de seis dias de prisão e 12$000 de multa, substituída por 50 açoites no pelourinho. O edital possuía quatro artigos longos e detalhados, mas que nunca foram respeitados. Mesmo assim, a situação melhorou, e os antigos baldes dágua com farinha foram substituídos pelos limões de cheiro, tido como um projétil mais amável e cordial. Desse modo, 15 dias antes do carnaval iniciar, começava a fabricação dos limões que eram feitos de água perfumada e eram vendidos em tabuleiros por escravos, ou em casas comerciais como a do Vieira Bellido que anunciou a venda dos tais limões pela última vez em 1892. Os limões eram feitos de cera em diferentes cores e tamanhos, borracha muito fina, cheia de água perfumada. Depois surgiram as bisnagas feitas de folhas de lata, espirrando cheiros bons. Em 1896, Arthur Rockert, introduziu o “biógrafo” (cinema) em Campos, e lançou finalmente as confetes e serpentinas, enfeitando de uma vez o carnaval campista. Os primeiros desfiles de carruagem ocorreram em 1857, quando existiam em Campos 157 carruagens, e os desfiles eram feitos a pé, à cavalo ou carrinhos. O primeiro desfile carnavalesco foi organizado pela “Sociedade Congresso Carnavalesco”, cuja sede localizava-se na rua do Sacramento (Lacerda Sobrinho). O desfile constou de carro alegórico reproduzindo antigas “saturnais”, música e guarda de honra à cavalo, levando “bouquês” que eram oferecidas as damas. Depois disso surgiram outros clubes, em 1870, surgiu a “Sociedade Az de Copas”, que marcou e provocou um escândalo porque os homens saíram fantasiados de mulher. Para Hervê Salgado Rodrigues, autor do livro Campos: Na Taba dos Goytacazes, a fase áurea do carnaval campista ocorreu entre os anos de 1920 e 1950. Não se sabe em que ano, mas a verdade é que no livro Campos: Na Taba dos Goytacazes, Hervê Salgado Rodrigues informa que “nas tardes de carnaval, os mascarados começavam o desfile por volta das 14 horas. Eram figuras humorísticas, belos dominós com guizos e arminho nos punhos e nas golas ursos e bois pintadinhos. Depois quase à tardinha, vinha os corsos. A população então vinha pra o centro para assistir ao desfile e participar dos desfiles e das guerras com os populares limões de cheiro”. Vale ressaltar que na história do carnaval campista foram criados ao longo dos anos diversos grupos carnavalescos, que por medida de espaço iremos citar: os clubes, cordões, ranchos, blocos de embalo ou blocos avulsos, blocos de salão, boi pintadinho, blocos de samba, batucadas, e as escolas de samba.
As escolas de samba Apesar de haver tantos livros contando a história de fatos do município, alguns autores não deram importância para que os registros históricos fossem úteis para a posteridade. No livro Na Taba dos Goytacazes, o autor e jornalista Hervê Salgado Rodrigues compara a casa da “Tia Ciata”, mulata líder dos boêmios e malandros cariocas, com a Sinhá Chica, lavadeira campista, que morava no centro. “Aqui em Campos também tivemos uma réplica da ‘Tia Ciata’. Era a ‘Sinhá Chica’. Ela morava na rua Boa Morte, era lavadeira, e sua casa acolhia os boêmios na era dos ranchos (...). ‘Sinhá Chica’ era presidente e praticamente dona do ‘Corbeille das Flores’ (...). Estávamos ainda muito longe das escolas de samba, cujo ritmo quente iria enxotar para sempre o compasso binário dos blocos e ranchos...”. Somente depois da metade do século XX, mais precisamente por volta de 1965, é que surgem as primeiras escolas de samba de Campos. Elas surgiram inicialmente usando os mesmos nomes das escolas de samba do Rio de Janeiro, como, Salgueiro, Madureira, Unidos da Tijuca e Bando da Luz. Até que, finalmente resolveram trocar de nome surgindo então os “Amigos da Farra”, a “Mocidade Louca”, “União da Esperança”, “Ururau da Lapa”, “Independente”, etc. Dentre as escolas de samba atuais, a Associação Atlética Mocidade Louca é a mais antiga, pois foi fundada em 8 de dezembro de 1952. A tricolor (azul, vermelho e branco) do Morrinho, é a que mais ganhou títulos, sendo 9 consecutivos entre as décadas de 50 e 60, e seu último título foi em 1981. Esta escola foi fundada por Jorge da Paz Almeida, um carnavalesco cuja história de vida já entrou para o folclore da cidade e do carnaval campista. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Ururau da Lapa, cujo nome é uma homenagem a lenda campista, do jacaré-do-papo-amarelo, que engoliu um sino de ouro e vivia no Rio Paraíba, nas proximidades da Lapa, detém o título de ser uma das maiores campeãs do carnaval campista, desde a época em que não passava de um simples bloco. A vermelho e branco da Lapa, fundada em 21 de janeiro de 1979, conquistou os títulos de 83 e 84, os últimos como bloco de samba. Em 1985, a agremiação passou a ser uma escola de samba e desde então conquistou os títulos de 1985, 86, 87, 88, 90, 91, 92, 95, 96, 98, 2002, 2003 e 2004. A Ururau da Lapa é a única escola de samba que consegue agregar pessoas da alta sociedade e fazer com que elas participem, desfilem e convivam com a comunidade da Lapa, onde está a sua sede. Do samba de protesto ao marketing político Ao pesquisar a história do carnaval campista um fato chama a atenção do pesquisador, a ausência do registro histórico, uma data para comprovar os fatos e registrar para a posteridade fatos marcantes que poderiam dar àqueles que vivenciaram o carnaval, o pioneirismo dos seus atos. O que se sabe até aqui, é que as letras dos sambas sempre tiveram como tema a crítica aos fatos acontecidos em determinados períodos. Estas músicas foram muito utilizadas quando o carnaval ainda vivia sob a época dos cordões carnavalescos onde cada escola resolvia criar um samba para provocar também a ira de outras escolas e para gabar-se da sua. Como foi contado por Jorge da Paz Almeida, conhecido como Jorge Chinês, em seu livro, “Campos: 50 anos de carnaval”. “...Mas, a partir do momento em que era dado o grito de guerra, começava o negócio. Houve um ano que por motivo de força maior o Filhos do Sol não saiu, então a Lira Brasileira não fez por menos. Cantou uma marcha assim: “A luz do Sol já perdeu o brilho O da Estrela já se apagou Só quem brilha é a nossa Lira Chega Iaiá, chega ioiô”.A resposta da Estrela veio imediatamente: “Filhos do Sol Nos deixou sozinhos Pra combater com a tal da Lira Eles disseram que nós perdemos o brilho Porém protesto, protesto que é mentira A bela Estrela alegre e prazenteira Queremos ver de perto A tal Lira Brasileira”.(bis)Depois com o surgimento das associações de classe as escolas de samba passaram a utilizar temas relativos a história do Brasil e do mundo, apesar disso uma vez ou outra uma escola de samba criava um samba para provocar a rivalidade contra as outras escolas. Como conta Jorge da Paz Almeida em seu livro: “... As divergências entre escolas eram por zonas, havia uma rivalidade grande entre Sorriso e Mangueira em Guarulhos e, do lado de cá, Salgueiro e Catete e ainda Coroa em Samba e Cruzeiro que será lembrada por muito tempo. Coroa em Samba começava seus ensaios logo após a Semana Santa, não só ensaiava como fazia passeata pelo bairro. Naturalmente, haviam os que não gostavam de samba fora de época, mas como a turma era conhecida ninguém se queixava. Um dia a cavalaria apareceu e interrompeu a passeata, dando uma carreira nos batuqueiros. O Cruzeiro não fez por menos, lançou um samba: “Até que chegou o dia Batendo noite e dia Chegou o que o Cruzeiro queria Ver a Coroa correndo no meio da cavalaria”.Mas como essas associações não possuem recursos para bancar os custos de um desfile, elas vêem no poder público uma fonte para custear a montagem de carros alegóricos, fantasias, estandartes e alegorias.
Diante dessa facilidade as escolas então começam a vender seus espaços e seus enredos para homenagear homens públicos. Passando a inverter e mudar a história, dos antigos sambas de protesto, essas escolas viram espaço de marketing para os políticos locais. Em 2001, o ex-governador do Estado e ex-prefeito de Campos, Anthony Garotinho foi homenageado pela Escola de Samba Os Psicodélicos, cuja letra é essa: Os Psicodélicos “Quem sabe faz a hora”Autores: Toninho Shita, Markinho Grande e Adalto Sepúlveda “Nos braços de um povo Que tanta te ama O defensor do proletário Um menino predestinado Que nasceu na Lapa e acendeu a chama Guerreiro, guardião desta planície Junto aos amigos do Liceu de Humanidades Na arte e na cultura, buscando novas rimas Mudou Campos, por amor a esta cidade. Na paixão que foi buscar, Rosinha Ela vai perpetuar, com o seu carinho O verdadeiro amigo das donas-de-casa (Bis)De coração a coração, fala Garotinho.“O jovem”O jovem triunfou De narrador de futebol a governador Ao lado da primeira dama O realizador Todo o Estado canta agora Foi deputado estadual Melhor prefeito do Brasil Quem sabe faz a hora. Ele é um rio que corre pro mar Canta Morrinho Que Os Psicodélicos, amor (Refrão)É Garotinho”Em 2002 e 2003 os homenageados foram o ex-vice-prefeito Geraldo Pudim, o ex-vereador Toninho Vianna; o ex-prefeito Arnaldo Vianna; o ex-deputado estadual, Paulo Albernaz; e o ex-vereador Manoel Alves da Costa. Em 2004, a homenageada pela Escola de Samba Ás de Ouro, foi a Governadora do Estado, Rosinha Matheus, cuja letra do samba foi esta: Ás de Ouro “Do Teatro ao Palácio Guanabara: a Rosa que faz”Autores: Fernando Lima e Hugo Leal Vamos exaltar a flor mais bela, quanta sedução! Nasceu em Itaperuna A rosa que perfuma esta canção Foi em Campos sua infância Desde os tempos de criança Despertou justiça e igualdade Em prol de uma cidade se entregou A paixão pela arte surgiu Seu canteiro de sonhos floriu No teatro do Sesc que encontrou (Refrão)O seu verdadeiro amor Por seus ideais Ela dedicou a sua vida Não se intimidou Foi nas urnas pelo povo a preferida Mãe, primeira-dama, veio e venceu, governa os sonhos de quem te elegeu. Quantos programas sociais! Luz de um trovador Peça de um ator, cor e paz Eu sou Ás de Ouro Trago esse tesouro, te esquecer, jamais Do teatro ao Palácio Guanabara (Bis)A rosa que fazMetodologia O presente trabalho de pesquisa teve como objetivo mostrar que o carnaval, manifestação artística, cultural e folclórica tem sofrido modificações com o passar dos tempos. Desde os primórdios da festa os manifestantes tem feito adaptações a maneira de comemorar o carnaval, se no início era apenas para festejar a chegada de uma estação e o princípio de um período de fartura para a agricultura, o carnaval passou por transformações tais como, a inversão de valores e as relações entre patrões e empregados. Dos sambas de protesto e escárnio, hoje os políticos de Campos, usam o carnaval como mais uma forma de atrair a atenção do povo, em uma estratégia de marketing político.
Análise dos resultados
Colhidos os resultados das pesquisas e das entrevistas percebe-se que o carnaval campista e porque não dizer, brasileiro, vem modificando e se adaptando aos novos tempos. Novos conceitos, novas tecnologias e novas informações, tudo a seu tempo. As escolas de samba, no desejo de conseguir as verbas governamentais vem mudando o seu conceito do que é popular e folclórico para conquistar espaços com o marketing político e comercial. As dificuldades foram muitas, principalmente no que se refere aos dados principais das escolas de samba, onde tanto os escritores de ontem, bem como jornalistas e homens da imprensa não tiveram o desejo de registrar para a posteridade dados que hoje fazem falta a qualquer pesquisador que queira fazer um estudo antropológico e social da sociedade campista através dos enredos das escolas de samba. Um dos poucos livros que retratam a história dessa festa popular no município, peca pela falta de dados mais precisos para o registro histórico dos carnavais de ontem. E também, das datas do início das atividades de cada uma das escolas de samba, bem como blocos de embalo, ranchos, bois pintadinhos, e das grandes sociedades carnavalescas que por algum tempo levaram ao público campista a alegria e a irreverência do carnaval. Conclusão Após todo esse trabalho de pesquisa, através de livros e sites na internet, sobre o carnaval o pesquisador chega a conclusão de que o carnaval como manifestação cultural popular, vem sofrendo modificações com o decorrer do tempo. Todas essas mudanças são decorrentes da evolução da sociedade e dos meios em que vivemos, dos problemas enfrentados e até mesmo da maneira com que a classe política de âmbito geral, vem trabalhando para dar ao povo as obras necessárias para a melhor qualidade de vida. Por outro lado, cabe também uma ponta de responsabilidade de quem averigua e pesquisa uma matéria tão complexa, atestar para a posteridade os fatos que determinaram as mudanças na apresentação do carnaval e dos seus enredos, para o povo. Pois o carnaval também é visto como uma fonte de comunicação do povo para o povo, e é através dele, que o carnavalesco conta a história de fatos passados, com uma visão do presente, deixando o seu legado para as novas e futuras gerações. Como tudo se transforma, é bem provável que nos próximos anos vejamos novidades no carnaval brasileiro, porque os carnavalescos campistas, já viraram a página da história, dos antigos sambas de protesto, as escolas de samba, venderam os seus espaços e seus enredos para que os políticos utilizem o carnaval como marketing político. Referências Bibliográficas: FERREIRA, Maria Nazareth – As festas populares na expansão do Turismo, a experiência italiana – Editora Arte & Ciência, 1ª edição, 2001. RODRIGUES, Hervê Salgado – Na Taba dos Goytacazes – Imprensa Oficial, 1ª edição, 1988.
Bibliografia:
SOUSA, Horácio – Cyclo Áureo, História do Primeiro Centenário de Campos – 1835-1935 – Editora, 2ª Edição, 1985. MELO, José Marques de – As festas populares como processos comunicacionais: Roteiro para o seu inventário, no Brasil, no limiar do século XXI, Editora, Edição, Ano. ALMEIDA, Jorge da Paz (Jorge Chinês) – Campos: 50 anos de carnaval – Escola de Artes Gráficas Lar Cristão, 2ª Edição, 1992. CASCUDO, Luís da Câmara – Dicionário do Folclore Brasileiro, Global Editora, 9ª Edição, 2000. NICÈAS, Alcides – Verbetes pra um dicionário do carnaval brasileiro, Fundação Ubaldino do Amaral, 1ª Edição, 1991.
Hemerografia:
Revista Nossa História – Ano 1, nº 4, fevereiro, 2004 – Editada pela Biblioteca Nacional. Revista Ensaio Geral – Ano VIII – nº 12, dezembro, 2003 – Informativo da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) – Íris Editora, RJ.
Webgrafia:
http://oglobo.globo.com/especiais/carnaval/historia_rj.asp. http://carsaniga.sites.uol.com.br/carnaval2004/sambas.asphttp://www.liesa.com.brhttp://www.mangueira.com.brhttp://www.geocities.com/aochiadobrasileiro/Musicas/Oabrealas.htmhttp://www.eucantosamba.blogger.com.br/http://www.geocities.com/chaleregina/Historia/Historiadosamba.htmhttp://www.mangueira.com.br/m_h_ocarnavais_sambaenredo.htmhttp://www.gresportela.com/index2.htmlwww.infoamerica.org/ teoria/andrade1.htmhttp://translate.google.com/translate_t
Fonte: http://www.revistas.uepg.br/index.php?journal=folkcom&page=article&op=view&path%5B%5D=518&path%5B%5D=351.
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